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Customizando sua moto: quais os limites?

Na Garagem

Quer entender um pouco mais sobre o funcionamento e manutenção de motos? Aqui você encontra dicas e cuidados que precisa ter com a sua motocicleta, passando por acessórios, peças, revisões equipamentos e muito mais.

Customizando sua moto: quais os limites?

Na Garagem 15/07/2020
Moto Honda Fury azul customizada

A customização de motos é uma realidade que ganha cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo, apesar da nossa legislação não ser nada branda com a maior parte das modificações. Mesmo que aparentemente haja uma “invasão” de motos custom nas ruas, a maior parte das alterações infringe a legislação.

Como dito no início, as leis brasileiras deixam bem pouca margem de liberdade para quem deseja alterar as características originais de sua moto. Mas, pior que isso, é o critério variável dos agentes de trânsito. Ora absolutamente rígidos, capazes de questionar a legalidade até mesmo acessórios homologados pela própria fabricante da moto ou, por vezes, o exato oposto, cegos diante das mais bizarras alterações.

Mesmo nesse cenário instável, a busca pela personalização (ou “customização”, dá na mesma...) alimenta um grande mercado de moto peças e de oficinas onde profissionais se dedicam a fazer arte – no duplo sentido da palavra –, sobre duas rodas!

Quem torna sua moto uma peça única, diferente de todas, deve estar ciente que o risco de ser parado em uma fiscalização de órgãos de trânsito e levar uma saraivada de multas, e em muitos casos ter sua moto aprendida, é gigante. E, como assinalado, o problema não é só a legislação rígida, mas principalmente o critério variável dos responsáveis pela aplicação das leis.

Qual a saída? Ao customizar, use o bom senso, jamais exagere. Por “bom senso” entenda que sua moto sai da linha de montagem 100% de acordo com a legislação e, tão importante quanto isso, depois de ter sido exaustivamente testada em fase de projeto. Engenheiros determinam características fundamentais, que visam itens prioritários como segurança e dirigibilidade, fora outros como durabilidade, praticidade de uso e manutenção e etc.

Deste modo, alterações que impliquem em mudanças técnicas devem ser evitadas, são um risco à sua integridade física e para a de outros usuários das vias públicas. Exemplo destas mudanças “do mal” são as que alteram a estrutura da motocicleta, ou seja, interferem no chassi ou quadro.

O chassi de uma moto em nenhuma hipótese deve ser modificado, e isso também vale para itens que estão diretamente ligados à parte ciclística, como suspensões, rodas e freios. A legislação não proíbe, por exemplo, que você substitua a roda de sua moto DESDE QUE ela seja absolutamente igual a roda original quanto à medida.

Outro item que implica em problemas, caso seja alterado, é o sistema de escapamento. No caso, não apenas problemas com a lei (em geral os agentes de trânsito não aceitam nenhum escape que não seja o original), mas também por causa do aspecto técnico, uma vez que nas motos atuais o escape é o local onde está instalado o catalisador, que atua na diminuição dos gases nocivos derivados da câmara de combustão.

O problema ao modificar o escape não é só a multa, a apreensão da moto, ou a malvadeza de fazer barulho excessivo e lançar poluentes na atmosfera, mas também de, literalmente, descompensar o acerto do motor. Ou seja, a eventual busca pela melhor aparência, ou aquele “ronquinho” bacana, é uma fria total.

Um alvo típico da customização são os guidões. Pequenas alterações no formato até são aceitáveis, apesar do imprevisível risco chamado “agente de trânsito”, que pode implicar com a peça escolhida. Mas, o que não pode mesmo é exagerar na modificação, entre as quais o maior (e pior) exemplo é o guidão “seca sovaco”, inexplicável do ponto de vista da pilotagem já que só piora a maneabilidade da moto, o que significa risco para segurança. 

No tema risco para a segurança, é necessário lembrar que espelhos retrovisores são equipamento fundamental e, como no caso do escape, qualquer alteração “abre o apetite” de quem tem o talão de multas na mão. O mesmo vale para a medida dos pneus, que em nenhuma hipótese pode ser alterada.

Ah, então a dura realidade é que a moto deve ficar exatamente igual a como saiu de fábrica? Calma, existe possibilidade de deixá-la mais “a sua cara” sem que isso te traga problemas. Como dissemos, use bom senso e explore brechas. Eis alguns exemplos:

Cor/pintura - Desde que você não altere a cor que está registrada no documento em mais de 50%, você pode usar criatividade na coloração e grafismos.

Rodas - Respeitando as medidas originais é permitido variar. Trocar uma roda raiada por uma de liga, ou vice versa por exemplo.

Banco - Mudar a conformação de maneira a mudar sua aparência, assim como o material do revestimento, em geral, não é fonte de problemas.

Painel - Desde que exista velocímetro, hodômetro e as demais luzes-alerta você pode “criar” nesta área. Não é obrigatório manter a instrumentação original.

Iluminação – Xênon na moto? Jamais! Não passa em fiscalização. Alterar lâmpada para uma mais forte? Evite! Instalar luzes auxiliares? Em tese não é contravenção. No item iluminação, mínimas mudanças são admitidas desde que a alteração não elimine nenhum item fundamental (farol, piscas, lanterna traseira com luz de posição e freio, além da iluminação da placa). Quanto a essa, um bom conselho é preservar o posicionamento original.

Carenagem/para-brisa - No passado, a instalação de carenagens era mais comum. Hoje os acessórios mais usuais são os para-brisas, que podem ser aplicados em modelos que não vem com tal equipamento. Neste caso é preciso usar bom senso, não exagerar no tamanho, o que pode causar problemas de dirigibilidade em velocidades mais elevadas.

Baú, alforjes/bolsas laterais - São equipamentos que, em geral, não causam a ira da fiscalização. Todavia, vale o discurso feito para o para-brisa, exagerar no tamanho (ou no peso) causará problemas.

Motor - Pequenas intervenções como substituir o filtro de ar original não são um pecado, mas lembre que sua motocicleta pode perder a garantia caso sejam realizadas alterações mecânicas mais profundas. Isto não deve ser visto como uma restrição a sua liberdade, mas sim uma preocupação do fabricante no sentido de preservar a confiabilidade e durabilidade de sua moto.

Freios - O aspecto de segurança deste sistema é mais do que óbvio. Modificações afetam a garantia mas, caso sejam feitas, devem sempre ter como alvo um aumento de eficiência coerente, jamais extremo.

Resumindo, a febre da customização é compreensível, exemplo prático da paixão que a motocicleta desperta. Mas é preciso ter critério e a consciência que a lei não incentiva tal atitude, pelo contrário. Programas de TV que praticamente reconstroem motocicletas, eliminando qualquer resquício de originalidade podem ser fascinantes, mas dissociados da realidade de uso legal e seguro de uma moto. Quando muito, produzem belas peças de decoração, boas para admirar, para competir em concursos de estética motociclística, para onde devem ser levadas em carretas pois sua eficiência dinâmica é obviamente questionável. Assim, antes de mais nada, lembre se que melhor do que ter uma moto legal de ser olhar, mais vale ter uma moto legal de andar.