Para você que é curioso e quer saber tudo sobre a história da moto, curiosidades da Honda e acontecimentos extraordinários do universo das motocicletas, contamos tudo aqui. Surpreenda-se com a jornada da marca que mais entende de sonhos.
No final dos anos 1980 as superesportivas atingiram o máximo da popularidade. Todas as marcas de motocicletas da face da terra tinham que ter em seu catálogo “o míssil”. Dois eram os pré-requisitos básicos: motor poderoso, de 1000cc ou mais, e formas aerodinâmicas capazes de manter a motocicleta no solo para alcançar a maior velocidade possível.
A imprensa especializada adorou essa “escalada armamentista”. Nos testes comparativos, a melhor motocicleta era a que conseguia ser a mais veloz e acelerar mais rápido que as outras. Os clientes, em vez de comprar uma moto que pudessem realmente desfrutar, compravam números. Acabavam levando para casa um objeto excelente para se gabar na rodinha de amigos, mas que apenas poucos mortais seriam capazes de dominar.
Felizmente, alguém se deu conta que isso era uma grande bobagem. Esse “alguém” foi Tadao Baba. Profissão? Funcionário do departamento R&D –R esearch and Development (pesquisa e desenvolvimento) – da Honda no Japão, e ele mesmo conta como e quando teve o “insight”...
“Foi 1989, eu estava andando de moto com um grupo de engenheiros, comparando algumas motos concorrentes, entre elas a Suzuki GSX-R1100 e a Yamaha FZR1000 com a nossa CBR1000F. Aí eu pensei, ‘Como essas motos podem ser consideradas esportivas sendo tão grandes e pesadas?’ Elas nem mereceriam ser chamadas de esportivas!” À partir daquele instante Tadao Baba não conseguiu mais pensar em outra coisa senão criar uma motocicleta esportiva realmente digna do nome.
O princípio de Baba, à distância de décadas, parece óbvio: a coisa mais legal que existe quando se usa uma motocicleta esportivamente é fazer curvas. Com potência exagerada e peso excessivo, ao chegar à uma curva a diversão virava pesadelo, o prazer virava tortura. E risco.
Tadao Baba começou a trabalhar na Honda quando a empresa ainda engatinhava, em 1962. Com meros 18 anos começou na produção de cabeçotes e virabrequins e, dois anos depois, passou para o departamento de pesquisa e desenvolvimento, o R&D, do qual saiu só quando se aposentou.Fato curioso? Baba nunca frequentou uma universidade e, apesar disso, tornou-se “LPL, Large Project Leader”, o cargo mais alto quando o assunto é criar uma motocicleta. Ou seja, um engenheiro formado na da prática, usando ferramentas e aprendendo com a experiência, algo impossível de acontecer nos dias atuais.
Aos 45 anos de idade –já tinha 25 anos de experiência desenvolvendo novas motos – Baba voltou do teste revelador com ideias mais do que claras, que posteriormente se resumiram a uma simples frase: Total Control. A carta-branca para seguir com o projeto e revolucionar o mundo das motocicletas esportivas, criando a Honda CBR 900RR Fireblade, não foi muito simples de obter em uma época onde as superesportivas ou eram 750cc ou 1000cc. Mas desde a primeira conceituação ficou claro para todos que a motocicleta imaginada por Baba seria capaz de derrotar as concorrentes mais poderosas da época. E assim foi.
Lançada em 1992, a Fireblade era compacta e leve, com distância entre-eixos de uma 600cc e pesando 40kg menos que as 1000cc. Seu motor de quatro cilindros em linha e 893cc rendia 125 cavalos,e a excelente relação peso-potência aliada ao conceito “Total Control” criado por Tadao, trouxe à tona uma nova categoria de motos: emocionantes, eficientes e cuja gestão era acessível à maioria dos motociclistas. Esportivas de verdade!
A Honda Fireblade redefiniu o conceito da categoria mais extrema e seu sucesso comercial resultou em mais de uma dezena de gerações, das quais as últimas, lançadas em 2017 e 2019, seguem fielmente o conceito “Total Control”.
Quanto a Tadao Baba, ele se aposentou em 2004 mas permaneceu ligado à Honda como consultor até 2009. Sempre lembrado pelo seu talento como projetista, pelos muitos cigarros que fuma e – dizem os pilotos de teste da Honda – pela quantidade de tombos que levou testando as Fireblade (em uma entrevista ele diz ter caído “apenas com umas quatro ou cinco delas”) Baba descreveu sua vida longe do R&D como rotineira. Aos domingos tenta jogar golf, mas acha o esporte muito difícil, e que andar de moto é muito mais fácil.
“Então eu pego a minha Fireblade 954 de 2002, que é a última que projetei integralmente e que considero a melhor das que fiz, e vou dar umas voltas. Mas se me perguntarem qual delas é mais importante direi que é a primeira, a de 1992, aquela com os furinhos na carenagem.” Sim, exatamente onde o “Total Control” começou.