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O início da Honda em competições – Parte 4: moto perdida, final feliz

O poder dos sonhos

Para você que é curioso e quer saber tudo sobre a história da moto, curiosidades da Honda e acontecimentos extraordinários do universo das motocicletas, contamos tudo aqui. Surpreenda-se com a jornada da marca que mais entende de sonhos.

O início da Honda em competições – Parte 4: moto perdida, final feliz

O poder dos sonhos 01/04/2019
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O sempre difícil começo
Parte 4
Moto Honda R125, o sonho de Soichiro

A Grande Prêmio IV Centenário da Cidade de São Paulo era um dos eventos comemorativos de aniversário de São Paulo e, com inveja, São Pedro fez o que sabe fazer muito bem: chover! Foi tanta água que caiu do céu que a corrida teve que ser adiada. Mikio Omura provavelmente ficou aliviado, correr de moto na chuva é sempre mais arriscado, e o adiamento lhe daria mais tempo para decorar melhor o traçado de oito quilômetros de Interlagos, ou preparar-se mentalmente para o inevitável fracasso que estava por vir.

Esta esticada na estadia em São Paulo teve consequências piores do que o simples adiamento: Katsuhiro Tashiro, o piloto da Meguro, sofreu um acidente pilotando a moto na chuva nos treinos e ficou de fora da corrida. O episódio foi um desastre para as finanças do trio, pois sem a dupla competindo, os organizadores alegaram não seremmais obrigados a pagar os prêmios de largada.

A solução foi recorrer à comunidade japonesa em São Paulo, que se mobilizou para bancar as despesas até que algum dinheiro chegasse do Japão, que naquela época impunha um rígido limite para envio de divisas ao exterior.

Sem dinheiro, mas livre de uma corrida de moto na chuva, Mikio Omura posicionou sua Honda R125 para a largada naquela histórica tarde de 13 de fevereiro de 1953. Era o 15º entre 25 concorrentes. A tão esperada primeira corrida internacional de uma motocicleta Honda estava começando, na zona sul de São Paulo.

Mikio fazia ideia da dimensão daquele momento? Certamente não. Em sua mente havia espaçoapenas para a voz de Soichiro, ordenando terminar a corrida, custasse o que custasse.

Motos de um lado da pista, pilotos do outro, a largada foi em estilo Le Mans, o quefavoreceu o forte japonês, que no auge de seus 20 anos foi um dos mais ligeiros a cruzar a pista e alcançar sua moto. O motorzinho podia não ser potente,mas pegava de primeira e Omura conseguiu largarentre os ponteiros. Porém, a alegria duraria pouco: no longo retão de quase um quilômetro de extensão, os escassos 6 cavalos de potência do motor Honda seriam insuficientes para conter a saúde dos motoresdas outras motos,com mais de 16 cv.

Todavia, no miolo da pista, a valente R125e seu arrojado piloto descontavam o espaço que os adversários abriam nas retas. A corrida durou uma eterna meia hora e Omura conseguiu a proeza de terminá-la no meio do pelotão, em um inesperado 13º lugar. Foi um resultado grandioso, considerando a inexperiência do piloto, a pouca potência da R125 e a qualidade dos rivais presentes. A melhora no tempo de volta do japonês também foi surpreendente, pois dos gordos seis minutos para a volta de largada, o registro médio da Honda passou a ser de pouco mais de 5min11s.

Quase meio século depois daquela suada tarde em São Paulo, mais exatamente no ano 2000, Mikio Omura foi chamado para uma comemoração no Honda Collection Hall, o especialíssimo museu de motos e carros em Motegi, no Japão. O que o esperava ali não dava nem pra imaginar: ele sempre soubera que a Honda "caçara" sua R125 durante anos, uma vez que logo depois da corrida em Interlagos, ela teve de ser vendida para tornar a compra das passagens de volta ao Japão possível. Mesmo depois de Soichiro Honda ter, nos anos 1970,dado ordens expressas para que a gloriosa moto fosse localizada no Brasil, inteira ou em partes, nenhum parafuso sequer foi localizado.

Por tudo isso, ao entrar no saguão do Honda Collection Hall, o que os olhos de Mikio viram lhe pareceu sonho: ali estava a Honda R125, impecável, novíssima como quando saiu do Japão para nunca mais voltar. Naquele ambiente pleno de motos campeãs, a essencialidade mecânica daquela Honda nº 136 contrastava de modo brutal com a sofisticação técnica de outras Honda, a marca mais vencedora do planeta.

Teria sido a R125 encontrada? Logo Mikio foi avisado que não: o que ele via ali era o resultado de um meticuloso trabalho de pesquisa. Baseando-se em raras fotos e alguns desenhos, os técnicos do Honda Collection Hall deram vida a uma réplica perfeita da 1ª Honda que competiu fora do Japão, justamente em Interlagos.

Como dissemos, depois daquela "primeira vez" no início de 1954, a ideia fixa de Soichiro –competir no Tourist Trophyda Ilha de Man –começaria a tomar forma. Logo depois da chegada de seus enviados à corrida no Brasil ele divulgou uma carta na qual, ainda sob os efeitos da corrida em Interlagos, decretou a certeza de que o caminho para o sucesso comercial passava pelo sucesso esportivo. E viria a missão à Ilha de Man, e tantas outras corridas, mas essas são outras –e belas –histórias que contaremos mais para a frente.