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Equipe de moto brasileira faz sucesso na Europa

Na Competição

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Equipe de moto brasileira faz sucesso na Europa

Na Competição 04/10/2021
Piloto na pista de corrida com a moto Honda CB 550

Nos anos 1970 a categoria Endurance (corridas de longa duração com motos) atraia um grande público no Brasil. Interlagos era o palco das principais provas, e enchia de gente quando rolavam corridas de 24 horas, com uma quantidade de espectadores que só perdia para os Grande Prêmios de Fórmula 1 da época. Neste cenário, um nome se destacava: a Fórmula G, equipe de uma concessionária Honda paulistana que apostou todas suas fichas em marketing esportivo.

Neste clima Milton Benite, o chefe de oficina da Fórmula G, conseguiu convencer o patrão, Arnoldo Bessa, de que a equipe de moto tinha mesmo é que dar um passo adiante e se lançar na maior das disputas: participar da mais importante competição internacional do gênero, as 24 Heures du Bol d’Or, disputada sempre no mês de setembro em Le Mans, na França.

Milton Benite não era qualquer um: se orgulhava de ter a carteirinha de mecânico nº1 emitida pela Honda Motor do Brasil Ltda., “razão social” da recém inaugurada subsidiária da Honda no Brasil, e um passado de piloto de relevo. Porém, mais do que tudo isso, Milton era um apaixonado, “doente” por motovelocidade. Arnoldo Bessa, empresário de faro apurado no setor, viu a chance, e não a deixou escapar...

A Fórmula G permitiu a Milton e seus mecânicos preparar com esmero uma Honda CB 550; depois disso, foi hora de inscreveu o time – tendo como pilotos Walter “Tucano” Barchi e Paulo “Paulé” Salvalaggio – na 40ª edição do Bol d’Or, em 1976. Chegando na França, a equipe de moto brasileira formada por Arnoldo, Milton e Wilson Paschoalin pôde usar a oficina de uma concessionária da Honda em Paris, nada menos do que a célebre Japauto, que tinha uma forte equipe e serviu de base também para as motos oficiais da Honda vindas diretamente do Japão, que naquele ano retomava a atividade esportiva paralisada em 1967.

Estar em um centro de excelência da Endurance mundial poderia parecer uma vantagem para os brasileiros, mas isso foi o primeiro grande problema que Arnoldo Bessa teve de enfrentar. Quando Milton Benite viu de perto toda aquela estrutura, os protótipos da Japauto e as poderosas Honda RCB 1000 oficiais de fábrica quis ir embora, voltar correndo para o Brasil sem nem sequer desempacotar uma caixa de peças que fosse: a CB 550 Four dos brasileiros, colocada lado a lado com as motos da RSC – Racing Service Center (antecessora da hoje famosa HRC, “forja” das motos de corrida da Honda), era um “nadinha”. Uma moto de série preparada no Brasil contra motos feitas especialmente para o Bol d’Or? “Tô fora”, disse Milton.  

Esta 1ª má sensação foi soprada para longe, a equipe se concentrou e sob o comando de Arnoldo e a chefia técnica de Milton, apelido “Pressão”, trabalhou duro nos dias que antecederam a corrida. A moto era aquela, não tinha jeito, mas corridas de longa duração são mágicas justamente por poderem transformar patinhos feios em belos cisnes, pois a regularidade conta mais que a velocidade. E foi isso mesmo que aconteceu.

Estreantes no circuito de Le Mans, os pilotos Tucano e Paulé se aplicaram nos treinos. Idem a equipe, ciente que a cada parada de box para reabastecimento deveria se superar. Arnoldo fez o que todo chefe deve fazer, transmitiu segurança e serenidade aos seus comandados.

24 longas horas e 663 voltas (!!!) depois da largada, a equipe brasileira conseguiu um resultado surpreendente: entre os 60 que largaram, os brasileiros conseguiram a 12ª colocação com uma pequena CB 550 Four praticamente de rua, atrás das 1.000cc oficiais, e à frente de muitas outras 1.000 cc também. O feito chamou a atenção. Ao final da corrida, Arnoldo Bessa e toda a equipe da concessionária Honda Fórmula G foram convidados para a festa dos vencedores, a equipe oficial da Honda.

Na festa, uma bela surpresa: os japoneses convidaram os brasileiros para voltar no ano seguinte, mas com uma ressalva: “deixem a moto no Brasil, nós providenciaremos uma máquina para vocês”, disseram. E assim foi! O time da Fórmula G (posteriormente rebatizada como Comstar) voltou mais três vezes para disputar o Bol d’Or com resultados expressivos, sempre com Arnoldo Bessa na coordenação e Milton Benite chefe dos mecânicos. Conseguiram dois espetaculares 5ºs lugares e um abandono quando ocupavam a 3º posição. Walter “Tucano” Barchi foi o piloto que não perdeu nenhuma edição. Já Paulé foi substituído por Edmar Ferreira e, na derradeira edição, os parceiros de Tucano foram os jovens pilotos José Cohen e Almir Donato.

Enfim, uma história de sucesso e superação, na qual uma concessionária Honda de São Paulo comprovou a extrema qualificação de sua equipe técnica, preparando uma CB 550 perfeita para seus pilotos aguerridos mostrarem ao mundo que podiam fazer bonito nas pistas. Dentro ou fora do Brasil.