As motos clássicas da Honda têm muita história para contar, com direito à curiosidades e momentos nostálgicos que te levarão em uma viagem no tempo. Afinal nossas motos antigas são únicas e dão vida aos novos modelos da Honda.
No comecinho de 2004 a Honda lançou a primeira CG 150, uma motocicleta totalmente atualizada em relação à sua antecessora, a CG 125. O trabalho de aperfeiçoamento do modelo foi surpreendente, bem além de um simples aumento na capacidade cúbica do motor.
A primeira CG estava prestes a completar três décadas de existência sendo fabricada em Manaus/AM, e já havia habituado seus fãs com sucessivas atualizações. As cinco gerações de CG 125 produzidas até então já haviam comprovado ser tal motocicleta uma referência mundial em termos de robustez, economia e performance.
Todavia, o que aconteceu com a CG em 2004 foi bem além em termos de aperfeiçoamento: é possível dizer que a Honda ousou, e muito, ao simplesmente “matar” sua galinha dos ovos de ouro. Propor um novo modelo, tecnicamente muito evoluído, e deixar de lado o robusto e admirado motor OHV de exatos 124cm3 era um risco.
Apostar na modernidade de um motor OHC, de comando de válvula no cabeçote, se revelaria apenas metade da ousadia da Honda, que não costuma fazer nada pela metade, e assim decidiu reformular a CG de cabo a rabo. Qual a razão? À época, uma pesquisa feita pela fabricante indicava que 53% dos donos de CG entrevistados gostariam de ter um motor mais potente, e 84% deles queriam uma motocicleta ainda mais econômica e confortável.
O trabalho que resultou na CG 150 começou no reforço do chassi de aço estampado, que foi adequado para a maior potência do novo motor. Idem no que diz respeito às suspensões, a dianteira totalmente nova – tubos de 31mm contra os de 27mm e curso de 130mm em vez de 115mm. Atrás, a balança traseira foi reforçada e o par de amortecedores recalibrados, e o curso cresceu de 82 para 101mm.
Porém, a estrela da nova Honda CG era o motor inédito: adeus varetas, bem-vindo comando no cabeçote, roletado como os balancins. Completava o menu o eixo balanceador no virabrequim, câmbio com seletor de marchas com dois eixos independentes, nova embreagem, carburador modificado e um tubo de escapamento mais longo.
O resultado prático da maior capacidade cúbica, de 124 para 149,2cm3, e demais alterações técnicas, foi um salto de potência (de 12,5cv a 9.000rpm para 14,2cv a 8.000rpm) e de torque máximo (de 1,0kgf.m a 7.500rpm para 1,35kgf.m a 6.500rpm). E mesmo sendo 13,6% mais potente e com 35% a mais de torque, a nova CG 150 ficou 18% mais econômica que sua antecessora.
A inovação radical veio acompanhada de um capricho estético importante, através de um novo desenho do tanque, laterais e banco, o painel com capa semelhante à da Twister e uma posição de pilotagem com ergonomia aperfeiçoada por conta do novo guidão mais alto e recuado.
O sucesso foi imediato. A Honda CG 150 chegou em um momento no qual o mercado já mostrava o brutal aquecimento que só teria fim, praticamente, uma década depois, e não à toa – com a ajuda da CG 150 – foi justamente em 2004 que a produção nacional de motos ultrapassou a casa do milhão de unidades. Desde sempre a motocicleta mais vendida no país, é possível afirmar que esta nova CG 150 foi a maior responsável pelo ápice da produção de motocicletas fabricadas no Brasil, nada menos que 2.140.907 unidades em 2008, cifra praticamente repetida em 2011.
A CG 150 começou sendo oferecida em três versões: a KS (partida a pedal) ES (elétrica) e ESD (elétrica e freio a disco). Nos anos seguintes ao seu lançamento, surgiram versões memoráveis como a CG 150 Sport, ainda mais potente, e edições especiais como a comemorativa dos 35 anos da Honda no Brasil. Mas a grande inovação veio em 2009, com a CG 150 Titan Mix, equipada com injeção eletrônica PGM-FI, 1ª moto do planeta a poder ser abastecida com gasolina ou etanol. Foi também através da CG 150 que estreou o sistema de frenagem combinada Combi Brake.
Lendária e inesquecível, a Honda CG 150 tem um lugar especial na história da motocicleta do Brasil, e seu reinado só terminou com a chegada, em 2016, da CG 160, herdeira de toda a tecnologia – e do sucesso – das pioneiras CG 125 e 150, que como todos sabem, ainda rodam aos milhões Brasil afora.